Me lembro de estar no anatômico, primeiro dia de aula.
Amedrontada.
Meus veteranos me julgando com olhos de desdém.
E então tive de responder à pergunta:
"Por que você quis fazer Veterinária?"
Eu me lembro perfeitamente da resposta que dei:
"Por que eu me identifico com os animais."
Logo depois, lembro-me de ter pensado: Nossa, que idiota, você, não tinha nada melhor pra dizer não?
Amedrontada.
Meus veteranos me julgando com olhos de desdém.
E então tive de responder à pergunta:
"Por que você quis fazer Veterinária?"
Eu me lembro perfeitamente da resposta que dei:
"Por que eu me identifico com os animais."
Logo depois, lembro-me de ter pensado: Nossa, que idiota, você, não tinha nada melhor pra dizer não?
Mas hoje, quase cinco anos depois, vejo que minha resposta não seria diferente.
Sempre soube que seria médica.
Sempre quis ser médica.
E talvez se fosse mais humana, teria sido médica de gente.
Mas sou meio bicho, sabe?
Meus pais sempre disseram que eu era uma criança "bicho-do-mato".
Minha primeira amiga foi uma Lhasa Apso, Indira.
Ganhei Indira quando tinha sei lá quandos meses de vida.
Permanecemos juntas por dez anos, até que um dia ela teve uma doença que não soubemos tratar, e então se foi.
Tive também um coelho, o Totó. Era um coelho branco, de olhinhos vermelhos.
Ganhei quando tinha uns quatro pra cinco anos. Ficamos juntos por uma semana, até que acordei de manhã, e ele também tinha partido.
Tive também um Papagaio, Loreco. Loreco tinha a língua cortada, portanto não pronunciava mais do que duas sílabas.
Falava tudo errado, era pidão de comida. Nunca gostou de mim, uma vez me bicou que quase me deixou cega, rs.
E viveu por uns vinte anos [quando eu nasci ele já era vivo], até um dia [eu devia ter uns onze anos] despencou da gaiola, morto. Na minha frente. Eu sei lá do que ele morreu. Mas eu me lembro de mesmo assim, ter chorado bastante.
Eu tive também o Dunga, um Pinscher zero que meu pai foi corrigir com um tapa e acabou matado de traumatismo craniano. Morte instantânea. Na minha frente, também.
Teve a Lilica!
Viralatinha misturada de Pinscher, era meio grandinha, quase uma terrier. Era uma paixão. Inteligente que só. Vi crescer e ter filhotinhos, teve quatro, sabe? Eu ajudei a trazê-los para este mundo. Ficamos com uma filhotinha dela, a Pankie.
Eu tinha treza anos quando um dia, voltando da escola, vi um cão estirado na rua. Doeu meu coração, por que no fundo se parecia muito com a minha Lilica.
Mas como coração de mãe não se engana...
Era mesmo a minha neguinha. Caminhão passou em cima, ela sempre foi muito fujona, sabe?
Pankie foi meu xodozinho. Vi nascer, dei mais carinho que a mãe biológica [Lilica era meio desnaturada]. Com seis meses, contraiu Cinomose, mas aqui em casa ninguém sabia o que era. Ninguém sabia que precisava vacinar cachorro pra outra coisa que não fosse Raiva. Hoje eu sei que doença ela teve, mas na época eu não fazia idéia.
Sendo assim, guardei um dos "casquinhos" que ela soltou do dedinho, e disse pra ela, em segredo: "Vou fazer Veterinária, minha pequena. Vou guardar esse casquinho pra perguntar pros professores o que é que você teve. E não vou deixar mais nenhum pequeno ter essa coisa que você teve."
Hoje entendo que foi um milagre ela ter sobrevivido, mesmo cheia de sequelas e tiques. Mesmo tendo desenvolvido uma Pneumonia bem grave, depois. Dormimos juntas por todas as noites ao longo de três anos, até que, como havia prometido a ela, passei no vestibular de Veterinária.
Estudando, descobri a doença da minha pequena.
Descobri outras tantas doenças, de outros tanto pequenos...
Até que um dia, voltei pra casa, e a minha pequena não estava mais lá.
Um carro bateu nela e ela, diminuta, não resistiu.
Embora tenha me doído um absurdo, dessa vez eu não chorei. Ao contrário, prometi que não deixaria mais a morte levar os meus queridos. Prometi me vingar da morte, proporcionando vida.
Talvez eu tivesse me tornado médica humana se tivesse visto morrerem mais humanos. Mas como os meus melhores amigos, meus filhos, meus pequenos, meus próximos eram os animais, dedici dedicar a minha vida a eles.
Nada mais justo; afinal, já me dediquei a muitos animais em minha vida, mas os que a mim se dedicaram, o fizeram durante a vida toda.
E eu me sinto no dever de recompensar.
"09 de Setembro, dia do Médico Veterinário"
A homenagem não deveria ser a quem cuida, mas a quem nos inspira. Nossa verdadeira paixão ♥
"09 de Setembro, dia do Médico Veterinário"
A homenagem não deveria ser a quem cuida, mas a quem nos inspira. Nossa verdadeira paixão ♥