domingo, 9 de setembro de 2012

Diz aí, por que você fez Veterinária?



Me lembro de estar no anatômico, primeiro dia de aula.
Amedrontada.
Meus veteranos me julgando com olhos de desdém.

E então tive de responder à pergunta:
"Por que você quis fazer Veterinária?"

Eu me lembro perfeitamente da resposta que dei:
"Por que eu me identifico com os animais."

Logo depois, lembro-me de ter pensado: Nossa, que idiota, você, não tinha nada melhor pra dizer não?

Mas hoje, quase cinco anos depois, vejo que minha resposta não seria diferente.
Sempre soube que seria médica.
Sempre quis ser médica.
E talvez se fosse mais humana, teria sido médica de gente.
Mas sou meio bicho, sabe?
Meus pais sempre disseram que eu era uma criança "bicho-do-mato".

Minha primeira amiga foi uma Lhasa Apso, Indira.
Ganhei Indira quando tinha sei lá quandos meses de vida.
Permanecemos juntas por dez anos, até que um dia ela teve uma doença que não soubemos tratar, e então se foi.

Tive também um coelho, o Totó. Era um coelho branco, de olhinhos vermelhos.
Ganhei quando tinha uns quatro pra cinco anos. Ficamos juntos por uma semana, até que acordei de manhã, e ele também tinha partido.

Tive também um Papagaio, Loreco. Loreco tinha a língua cortada, portanto não pronunciava mais do que duas sílabas.
Falava tudo errado, era pidão de comida. Nunca gostou de mim, uma vez me bicou que quase me deixou cega, rs.
E viveu por uns vinte anos [quando eu nasci ele já era vivo], até um dia [eu devia ter uns onze anos] despencou da gaiola, morto. Na minha frente. Eu sei lá do que ele morreu. Mas eu me lembro de mesmo assim, ter chorado bastante.

Eu tive também o Dunga, um Pinscher zero que meu pai foi corrigir com um tapa e acabou matado de traumatismo craniano. Morte instantânea. Na minha frente, também.

Teve a Lilica!
Viralatinha misturada de Pinscher, era meio grandinha, quase uma terrier. Era uma paixão. Inteligente que só. Vi crescer e ter filhotinhos, teve quatro, sabe? Eu ajudei a trazê-los para este mundo. Ficamos com uma filhotinha dela, a Pankie.

Eu tinha treza anos quando um dia, voltando da escola, vi um cão estirado na rua. Doeu meu coração, por que no fundo se parecia muito com a minha Lilica.
Mas como coração de mãe não se engana...
Era mesmo a minha neguinha. Caminhão passou em cima, ela sempre foi muito fujona, sabe?

Pankie foi meu xodozinho. Vi nascer, dei mais carinho que a mãe biológica [Lilica era meio desnaturada]. Com seis meses, contraiu Cinomose, mas aqui em casa ninguém sabia o que era. Ninguém sabia que precisava vacinar cachorro pra outra coisa que não fosse Raiva. Hoje eu sei que doença ela teve, mas na época eu não fazia idéia.

Sendo assim, guardei um dos "casquinhos" que ela soltou do dedinho, e disse pra ela, em segredo: "Vou fazer Veterinária, minha pequena. Vou guardar esse casquinho pra perguntar pros professores o que é que você teve. E não vou deixar mais nenhum pequeno ter essa coisa que você teve."

Hoje entendo que foi um milagre ela ter sobrevivido, mesmo cheia de sequelas e tiques. Mesmo tendo desenvolvido uma Pneumonia bem grave, depois. Dormimos juntas por todas as noites ao longo de três anos, até que, como havia prometido a ela, passei no vestibular de Veterinária.

Estudando, descobri a doença da minha pequena.
Descobri outras tantas doenças, de outros tanto pequenos...
Até que um dia, voltei pra casa, e a minha pequena não estava mais lá.
Um carro bateu nela e ela, diminuta, não resistiu.

Embora tenha me doído um absurdo, dessa vez eu não chorei. Ao contrário, prometi que não deixaria mais a morte levar os meus queridos. Prometi me vingar da morte, proporcionando vida.

Talvez eu tivesse me tornado médica humana se tivesse visto morrerem mais humanos. Mas como os meus melhores amigos, meus filhos, meus pequenos, meus próximos eram os animais, dedici dedicar a minha vida a eles.

Nada mais justo; afinal, já me dediquei a muitos animais em minha vida, mas os que a mim se dedicaram, o fizeram durante a vida toda.

E eu me sinto no dever de recompensar.



"09 de Setembro, dia do Médico Veterinário"
A homenagem não deveria ser a quem cuida, mas a quem nos inspira. Nossa verdadeira paixão ♥

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Contramão



Me disseram: Como você é antiquada!

Me limitei a responder com um sorriso.

Cá com meus botões, pensei:
Então estou no caminho certo...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

1,76 m


Tanto tempo pedindo um par de asas, e só agora me dei conta:

Se Deus me fez alta, foi para me permitir ter a cabeça nas nuvens
sem que fosse preciso tirar os pés do chão.

domingo, 10 de junho de 2012

Turbilhão



Não espere constância seu moço, que eu posso decepcionar você:
Por vezes eu sou rock, por vezes MPB.
Mas também não se preocupe seu moço, que eu tenho coração:
Às vezes sou guitarra, mas também sou violão.
E já que é assim não tenha pressa seu moço, que meu tempo é moinho:
Vez em quando estou com pressa, vez em quando vagarzinho.
Não tenha medo de mim seu moço, que meu sentimento é bicho arisco:
Às vezes sou aparição, às vezes sou sumiço.
Mas não se preocupe seu moço, que minha mente não tem problema:
Às vezes eu sou crônica, às vezes sou poema.
Só não espere de mim melodia:
Às vezes sou sussurro, às vezes gritaria.

...E posso te assustar.

sábado, 9 de junho de 2012

Sono REM



E se ele soubesse que,
toda vez que alguém me diz para ter bons sonhos,
eu sorrio e penso nele?


quarta-feira, 6 de junho de 2012

É que eu sou bicho arisco, seu moço...


 

E sinto que o perigo maior não é quando te olho nos olhos,
Mas quando me desvio deles.

Como é que eu me protejo dos teus olhos, seu moço,
Se o desejo de estar neles
É mais forte do que eu?

domingo, 3 de junho de 2012

Cardiomiopatia metafísica




- Diga, moça, o que você está sentindo?

- Pés inquietos, coração palpitante, sorriso bobo no rosto, olhar perdido.

- Hm. Olha, querida, já tenho o meu diagnóstico. Está preparada?

- Não sei, mas... Diga.

- É paixão. É das fortes.

- Oh, doutor, isso tem cura?

- Cura, não. Mas tem prognóstico.

- E qual é o prognóstico?

- Sinto dizer, querida, mas... É Ruim. Péssimo.

- Meu Deus. E agora, há algo a ser feito?

- Se entregue de vez à doença e tenha a mais feliz das mortes, querida. É o jeito.


domingo, 6 de maio de 2012

Não tem título por que não passam de frases soltas


Dormir para calar as vozes da mente.

É muito duro se dar conta de que é só mais um na multidão. De que as pessoas podem ser felizes sem você.

Talvez eu deva desacelerar. Talvez eu deva me voltar ao propósito pelo qual cheguei até aqui.

Mas a vozinha me diz que eu vou me tornar cada vez mais solitária. Pavor. Pânico.

Meu coração está em pânico.

Talvez eu deva levar as coisas menos a sério, mas... Se bem me lembro, foi a intenção no começo. Talvez decidir não levar as coisas a sério tenha sido o princípio de toda a ruína.

Construí um reinado inteiro empilhando cartas de baralho: Quanto maior eu penso que ele fica, mais frágil eu sei que se torna.

É também difícil aceitar que as pessoas são diferentes de mim. Que não pensam como eu. Que tem objetivos diferentes.

Pela primeira vez na vida, me sinto triste por saber que não há volta. Máquina do tempo, é tão preciso que te inventem!

Dormir para calar as vozes da mente.

Mas há trabalho a ser feito. Dormir não está nos planos.

Coração bate apertado no peito. Como daquela vez em que quase morri. O silêncio da casa me permite ouvi-lo.

Talvez estejam falando mal de mim. Talvez não. Talvez entendam o que se passa aqui dentro. É, definitivamente... Não.

Talvez eu deva desacelerar. Dormir para calar as vozes da mente. Eternamente.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sobre o amor, parte V




Eu sei que a gente sonha em encontrar o nosso amor de um jeito espetacular. De um jeito cinematográfico. Eu sei que a gente sonha em encontrar o nosso amor numa esquina, por acaso, e trombar com ele, sorrir para ele, vê-lo sorrir de volta e pedir seu telefone. Eu sei que a gente sonha que ele vai ligar e marcar um encontro, dizer que você é tudo que ele sonhou. A gente sonha que ele vai nos trazer flores, e bombons, e dizer coisas lindas, nos trazer um anel, que ele será romântico e nunca mais olhará para mulher nenhuma no mundo.

Mas cá para nós. Quantos relacionamentos você conhece que começaram assim? Para os que começaram assim, quantos permanecem até hoje? Quantos são ainda são felizes?

Os relacionamentos que dão certo são aqueles aonde há briga. Onde há discórdia, há também concórdia. Tudo que discorda, para prosseguir, precisa mudar. Quando se nasce um para o outro, não há o que se amoldar. Perde a graça. Os relacionamentos que dão certo são aqueles onde somos argila, não escultura. Esculturas são de fato admiráveis, mas é no processo de moldagem que a peça ganha vida.

Nota da autora: Mulheres, de uma vez por todas, aprendam que homens não são cachorrinhos adestráveis. Cai na real, mulher. Homem nenhum no mundo vai deixar de olhar mulher só por que você está do lado dele. O teu amor de verdade vai sim, olhar para outra mulher, mas não vai querer te trocar para estar com nenhuma outra no mundo. Aprenda a diferenciar.

Eu sei que a gente sonha com um amor onde tudo dá certo. Mas se há algo que eu tenha aprendido com amor, é que ele permanece apesar de tudo. Apesar das brigas, apesar dos defeitos, apesar dos erros. O amor só é perfeito por que permanece mesmo aonde tudo é imperfeito.

domingo, 29 de abril de 2012

Sobre freezers e saudades





     - O que ela está fazendo dentro da geladeira?
     - Diz ela que está curando a saudade.
     - Que estranho. Ela deve ter levado muito a sério essa coisa de "congela dor"...